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29 jun 2012

Os Ratinhos Astutos e o Gato Traiçoeiro

Apesar de sua simplicidade, algumas histórias carregam grande sabedoria e representam aspectos bastante práticos dos processos pelos quais atravessa a alma humana. Este é o caso deste conto atribuído ao Dalai Lama, que fala sobre dois ratinhos astutos e um gato traiçoeiro, e de maneira velada oferece uma dica preciosa a respeito dos processos de meditação e despertar da consciência.

Era uma vez um gato que vivia numa grande casa de fazenda, na qual também vivia um grande número de ratos. Ao longo de muitos anos o gato jamais encontrou qualquer dificuldade para capturar muitos daqueles pequenos animais, tantos quanto precisasse comer. Assim, o gato viveu por muito tempo uma vida bastante tranquila e agradável.

Mas o tempo passou, e ele descobriu que estava ficando velho e enfermo. A cada dia que passava ia se tornando mais e mais difícil capturar o mesmo número de ratos que antes.

Por isso, depois de pensar com muito cuidado sobre o assunto, ele um dia chamou todos os ratos, e depois de prometer nunca mais tocar qualquer um deles, disse o seguinte:

“Queridos ratos”, disse o gato. “Chamei vocês aqui para fazer um comunicado. O fato é que eu tenho levado uma vida muito má e errada, e agora, na minha velhice, estou arrependido de ter causado a vocês tantos inconvenientes e tantos aborrecimentos.”

“Então, a partir de agora, eu me comprometo a virar esta página. É minha intenção entregar-me inteiramente à contemplação religiosa e não mais incomodar vocês. Por isso, de agora em diante vocês têm a liberdade de correr livremente.”

“Não tenham mais medo de mim. Tudo o que eu peço em troca é que, duas vezes por dia, todos vocês devem desfilem na minha frente em procissão, e que cada um de vocês faça uma reverência assim que passarem por mim, como um sinal de sua gratidão por minha bondade.”

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Quando os ratos ouviram isso ficaram muito contentes, pensando que agora, finalmente, estariam livres de todos os perigos de seu antigo inimigo, o terrível e implacável gato. Então, eles se comprometeram a cumprir os pedidos do gato, e concordaram em realizar a procissão e fazer mesura, inclusive duas vezes por dia.

E assim que a noite chegou, o gato tomou seu lugar em uma almofada de um lado da sala, e os ratos andaram em uma fila única, cada um fazendo uma reverência profunda assim que passavam pelo gato. Agora o velho gato astuto tinha um plano cuidadosamente arranjado para atingir seus objetivos. Logo que a fila de ratos passasse, ele agarraria o último sem que os demais se dessem conta. Ninguém notaria o sumiço de um único ratinho por vez.

Assim que a procissão passou em sua frente ele rapidamente o tomou em suas garras sem ninguém perceber o que tinha acontecido, e devorou o pequeno com grande tranquilidade. E desta forma, duas vezes por dia, o gato sequestrava o último rato da fila, e por muito tempo viveu confortavelmente sem nenhum problema, e sem que qualquer um dos ratos percebesse o que estava acontecendo.

Contudo, havia entre os ratos dois amigos, cujos nomes eram Rambe e Ambe, e os dois eram muito ligados um ao outro. Eles eram muito mais engenhosos e astutos do que os outros, e depois de alguns dias eles notaram que o número de ratos na casa parecia estar diminuindo muito, apesar da promessa que tinha sido feita pelo gato.

Os dois puseram suas cabeças pra funcionar, e arquitetaram um plano para ser posto em prática nas futuras procissões. De acordo com o plano, Rambe andaria sempre na frente da procissão, e Ambe na parte de trás, e durante todo o tempo Rambe chamaria pór Ambe, e Ambe responderia a Rambe em intervalos freqüentes.

Então, na noite seguinte, quando a procissão começou como de costume, Rambe foi na frente e Ambe assumiu a última posição. Assim que Rambe passou pelo gato e fez sua reverência, gritou com voz estridente: “Onde está você, Ambe?” E Ambe respondeu guinchando desde o final da fila: “Aqui estou eu, Rambe”.

E assim eles continuaram chamando e respondendo um ao outro até que todos passaram pelo gato, que não ousou tocar Ambe enquanto seu amigo o chamava. O gato ficou muito aborrecido por ter de passar fome naquela noite. Mas, ele pensou que aquilo era apenas um acidente, e que certamente na manhã seguinte haveria um rato bem gordinho no final da procissão para compensar seu jejum.

Para o seu espanto, na manhã seguinte o arranjo da fila era o mesmo do dia anterior. Rambe chamava por Ambe, e Ambe respondia até que todos os ratos tinham passado por ele, que mais uma vez ficou frustrado sem a sua habitual refeição. O gato disfarçou sua raiva e decidiu aguardar pacientemente em sua almofada, esperando os ratos aparecem na nova procissão.

Mas os astutos ratinhos Rambe e Ambe tinham advertido os outros ratos para que ficassem atentos e prontos para debandar assim que o gato mostrasse sua raiva. Na hora marcada a procissão começou, e logo que Rambe passou pelo o gato, gritou novamente: “Onde está você, Ambe? E Ambe novamente respondeu: “Aqui estou eu, Rambe “, com sua voz estridente desde o fim da fila.

Isto era mais do que o gato podia suportar. Nervoso, ele deu um salto feroz na direção dos ratos, que estavam preparados para esta situação. Num instante eles fugiram em direção às suas tocas, e antes que o gato tivesse tempo de pegar um único ratinho sequer, o quarto estava vazio e não havia nenhum sinal de ratos em qualquer lugar.

A partir de então os ratos tiveram sempre muito cuidado para não confiar nunca mais no gato traiçoeiro, que depois de passado algum tempo morreu de fome, já que não era capaz de conseguir capturar seu alimento. Já os amigos astutos Rambe e Ambe viveram por muitos anos, ao longo dos quais se tornaram figuras muito estimadas na comunidade dos ratos.

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