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1 jun 2012

A Lenda do Pequeno Riacho

Em uma terra montanhosa muito distante, um lago e um pequeno riacho viviam lado a lado. O lago estava aos pés da montanha, e o riacho corria um pouco acima, na própria montanha. O lago estava muito orgulhoso de si mesmo, tanto que chegou a dizer para o riacho: “Pequeno riacho, veja como eu sou bonito, grande e como minhas águas são límpidas!”

“Sim, é verdade”, respondeu o riacho. “Você é mesmo muito bonito, muito grande e suas águas são muito, mas muito limpas mesmo. E você deve ter muitos amigos, afinal de contas é tão grande que pode fornecer suas águas para qualquer um que esteja com sede. Mas eu, veja só, sou muito pequeno, e ninguém parece nem saber que eu existo.”

Diante do comentário inocente do riacho, aquele lago que parecia tão imponente e majestoso não aguentou, e começou a gargalhar, para logo dizer: “Riacho, por que eu deveria ceder minhas águas para os outros? Se eu fizer isso, vou me tornar insignificante, igualzinho à você.”

Os dias se passaram, até que um bode da montanha se aproximou do lago e disse: “Mas que lago bonito! Escute lago, eu acabei me perdendo em meu caminho e há muito tempo que não bebo uma gota d’água sequer. Posso tomar um golinho?”

Como já era de se esperar, o lago olhou com desdém para o sedento bode, e disse: “Vá buscar água em outro lugar. E tome muito cuidado para não me encostar com essas suas patas sujas.”

Ao ouvir aquelas palavras, o bode ficou muito triste. Mais que isso, ele começou a ficar desesperado, pois há muito tempo não bebia água e sua sede só aumentava. Mas não havia nada que ele pudesse fazer. E quando estava prestes à ir embora, ouviu uma voz suave e macia vinda logo do alto: “Ei bode, venha aqui. Eu sou um pequeno riacho, tão pequeno que ninguém parece saber que eu existo, mas eu tenho alguma água pra você. Pode beber o quanto quiser.”

Com imensa alegria e infinita gratidão em seus olhos, e em meio a um gole ou outro, o bode exclamava: “Muito obrigado por ter salvo a minha vida, pequeno riacho!” Depois de ter matado a sua sede, o bode pode retornar à sua viagem para reencontrar seu caminho, sem se preocupar se morreria sozinho e desidratado.

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O tempo passou, e certa vez um bando de andorinhas sobrevoou aquelas paragens. Imediatamente todas se dirigiram para o lago: “Olá lago, tudo bem com você? Estamos muito cansadas de nossa longa viagem, e ainda temos um bom caminho pela frente. Você permite que nós bebamos de suas águas limpas e agradáveis?”

“Mas nem pensar!” o lago respondeu agressivamente. “Olha só o tanto de poeira em suas asas! Imagina só! Logo eu que detesto poeira! Sumam já daqui, suas aves imundas!” Espantadas, as andorinhas já iam levantando voo, quando ouviram aquela mesma voz suave e macia vinda do alto: “Ei, andorinhas, podem vir até aqui. Sou um riacho pequenininho, e ninguém parece notar que eu existo, mas tenho água suficiente pra vocês. Podem beber à vontade.”

“Muito obrigado riachinho”, disseram as andorinhas. E depois de terem bebido o suficiente para matar sua sede de viajantes, elas agradeceram dizendo: “Você é um amigo de verdade!” E aconteceu depois disso que muitos animais e muitas aves vieram até aquele local para matar a sede, e ainda que pedissem ao lago para que cedesse sua água, era o pequeno riacho quem os ajudava.

Até que uma vez, num dia muito quente de verão, algo inesperado aconteceu.

“Socorro!” um pequeno rato gritava enquanto corria em direção ao lago. O pequeno animal parou às suas margens e mal podia recuperar o fôlego para falar. Quando conseguiu, ele disse: “Por favor lago, ajude o coelho. Ele quebrou a pata e não consegue caminhar. Já faz bastante tempo que ele não bebe nadica de nada de água! Ele está muito desidratado e precisa de sua ajuda.”

“E o que é que eu tenho a ver com isso?” perguntou, surpreso, o lago. Ao que o ratinho respondeu: “Se você jorrar um pouquinho que seja de sua água, ela vai acabar alcançando o coelho, e ele poderá bebê-la.” Com o desdém que lhe era característico, o lago exclamou: “Isso é pura bobagem. Cai fora daqui antes que eu fique irritado.”

Vendo isso, o riacho gritou: “Ei, ratinho, será que eu posso ajudá-lo?” O rato olhou para o riachinho e disse um pouco triste: “Você é muito legal riachinho, mas também é muito pequeno. Não acho que você tenha água suficiente para alcançar meu amigo coelho”. E o riacho então respondeu: “Você acha que não? Então, espere pra ver só uma coisa.”

E começou a gritar: “Mãe Montanha! Mãe Montanha!” Mas a Montanha estava dormindo profundamente, sob os deliciosos raios de sol. O riacho então olhou para o ratinho e disse: “Vem ratinho, me ajude.” E os dois começaram a gritar juntos: “Mãe Montanha! Mãe Montanha!” Como a voz do ratinho era muito estridente, a Montanha acordou rapidinho.

“Pra que todo esse barulho, pequeninos? O que foi que aconteceu?” O riacho logo começou a explicar: “O coelho quebrou sua pata. Ele precisa de água, e eu preciso ajudá-lo!” Intrigada, a Montanha olhou pro riachinho e perguntou: “Mas como? Você é tão pequeno!” E o riacho disse: “Há muito neve lá em cima, bem no seu pico. Ela está derretendo sob os raios do sol e virando água. Dê para mim um pouco desta água, e eu conseguirei ajudar o coelho.”

Surpresa, mas contente, a Montanha respondeu: “Mesmo sendo tão pequenino, você tem um grande coração, riachinho. Eu vou fazer o que você está pedindo.” Imediatamente, a água que fluía do alto da montanha diretamente para o lago começou a fluir em direção ao riacho. E antes mesmo que o lago pudesse reclamar, ele se transformou num pântano seco.

Enquanto isso, o pequeno riacho se transformou em um grande rio de águas caudalosas, as quais rapidamente alcançaram o coelho. O pequeno animal pode saciar sua sede, lavar sua ferida, e correr em direção ao mar, levando a notícia aos demais bichos da natureza: “Estão vendo aquele rio de águas limpas? Há um tempo atrás ele era apenas um pequeno riacho, que ninguém parecia saber que existia, mas a sua vontade de ajudar os outros o transformou em um rio de correntes fortes e abundantes.”

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