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30 jan 2013

Pombas Católicas e Gaivotas Gnósticas

Soltar uma pomba branca em um evento público pretende ser um ato simbólico de paz em diversas partes do mundo e nas mais variadas culturas. Seguindo esta tradição, e amparado nos mitos de Noé e João Batista, ao final de algumas cerimônias públicas o Papa Bento XVI costuma soltar pombas brancas para representar a tranquilidade que a fé católica garante ao crente.

Mas, no último domingo, uma das pombas libertadas por ocasião da cerimônia pelo Dia da Memória do Holocausto foi atacada por uma gaivota assim que atravessou a janela de seu cativeiro, o apartamento do Pontífice. Alguns católicos estão preocupados que isso seja o presságio de uma ameaça à sua fé ou um sinal concreto que Deus envia para alertar seus fiéis dos ataques à Igreja.

Por outro lado, alguns afirmam que tudo não passou de uma aula de biologia evolucionista que a Natureza resolveu dar ao Papa, escolhendo o que consideram ser “um estômago com asas” para ministrar o tema da “sobrevivência do mais apto”.

Deixando de lado crendices e ceticismos, recordemos de um dos mais queridos personagens da literatura mundial, o intrépido Fernão Capelo Gaivota, protótipo da figura aeônica de Cristo-Sophia, que representa o espírito da busca pela liberdade através do conhecimento do mistério.

Os mitos construídos pelos gnósticos de quase dois mil anos atrás estão fundamentados em realidades arquetípicas universais. Tais verdades acabaram sendo expressadas de diversas formas ao longo da história da humanidade, sempre que foram intuídas por uma elite composta por indivíduos capazes de estabelecer uma conexão mística com estas realidades.

Uma leitura mais atenta da história escrita por Richard Bach mostra uma gaivota inconformada com a realidade opressora que a circunda (a vida rotineira e materialista de sua comunidade de gaivotas) e os esforços que faz para se libertar desta realidade através do conhecimento (gnosis).

Este comportamento o leva a ser expulso de sua comunidade, mas a sua persistência o conduz, tal como no caso da Sophia gnóstica, à experiência de novas realidades. Logo, ele é encontrado por duas gaivotas radiantes que pretendem ajudá-lo a elevar ainda mais seu conhecimento, fazendo um papel semelhante ao de Miguel e Gabriel no livro da Pistis Sophia.

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Fernão é levado a viver junto a uma sociedade de gaivotas semelhantes à ele em sua paixão pelo voo. E ali ele convive com professores que respeitam seus alunos e estabelecem com eles uma relação sagrada, configurando uma metáfora bastante apropriada do Pleroma gnóstico, a reunião da totalidade das emanações e dos poderes divinos.

Ele aprende que uma gaivota é a apenas uma imagem da Grande Gaivota, ou seja, em linguagem gnóstica, que os seres viventes não são mais do que emanações das qualidades e dos poderes da Divindade Suprema, e que por isso é tão importante confiar em si mesmo. Outro aprendizado importante que ele adquire diz respeito ao perdão e ao sacrifício: Fernão compreende que o espírito não pode ser definitivamente livre sem compaixão. Mais tarde, seu corpo se transforma em luz e ele desaparece nos céus.

Agora, à semelhança do Cristo, a gaivota já completamente transformada resolve descer até a antiga comunidade de gaivotas de onde foi expulso quando exibiu suas primeiras inquietudes e decidiu transgredir as normas convencionais. Sua decisão de ajudar as outras gaivotas completa sua revolução interior e o capacita a enfrentar os limites daquela antiga realidade com sabedoria, amor e poder.

São muitos e evidentes os paralelos que existem entre a gaivota que se liberta da rotina opressora e do conformismo que caracteriza seu mundo limitado para alcançar a liberdade e novas realidades mediante o conhecimento de si mesma, e a proposta de desenvolvimento espiritual que os gnósticos apresentam à humanidade desde o início dos tempos.

Portanto, a gaivota que ataca a pomba na janela do Pontífice pode ser um alerta divino para os católicos, ou uma metáfora sarcástica para os secularistas. Para os gnósticos, servirá como um símbolo de coragem e disposição para a luta que se necessita ter para avançar o caminho esotérico, enfrentando as limitações do seu próprio mundo interior e tomando o conhecimento gnóstico como instrumento de revolução interior e ascensão espiritual.

1 Resposta

  1. Bruno Osíris

    Gostei dessa publicação.

    A primeira impressão que tive foi de que esse “ataque da gaivota á pomba” representa um aviso de guerra e revolução, a terceira guerra mundial, a qual vai deitar abaixo todo o sistema católico existente, indo de encontro com as profecias de São Malaquias.

    Apesar de que eu também concordo com o simbolismo referido no final dessa publicação.

    No entanto, como se trata de um acontecimento ao nível físico, e não apenas uma visão ao nível intuitivo-espiritual-clarividente, a interpretação simbólica (a meu ver) se refere mais á primeira parte do meu comentário.

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